Deus estabeleceu vários princípios e leis para cuidar do seu povo. Dentre essas leis, a lei do remidor, que se encontra em Deuteronômio 25:5-10. Moisés escreve como o Senhor queria que as viúvas fossem tratadas. Dentre tantas leis judaicas, a do remidor, talvez, seja a mais bela e a mais difícil de entender, comparada a nossa cultura ocidental.
O remidor é o mesmo que redentor, libertador, resgatador. O desejo do homem judeu era ter uma grande prole, que garantisse a perpetuação de seu nome no meio dos filhos de Israel. Para uma mulher judia, não ter filhos era desonroso. Para contemplar o desejo da família judaica, foi elaborada uma lei que determinava que todo homem casado tinha direito de ter um filho, uma descendência.
Um remidor familiar era um parente que se oferecia para assumir a responsabilidade pela família. Quando o marido de uma mulher morria, a lei (Deuteronômio 25:5-10) permitia que ela se casasse com o irmão de seu marido morto. Mas Noemi não tinha mais filhos. Nesse caso, o parente mais próximo do falecido marido poderia se tornar um remidor familiar e casar-se com a viúva. O parente mais próximo não tinha a obrigação de se casar com a viúva. Se ele não quisesse, o próximo parente mais próximo poderia se casar com ela em seu lugar.
Se ninguém escolhesse ajudar a viúva, ela provavelmente viveria na pobreza pelo resto de sua vida, porque na cultura israelita a herança era passada para o filho ou para o parente do sexo masculino mais próximo, e nunca para a esposa. As leis da respiga e dos remidores familiares ajudavam a tirar o aguilhão destas regras de herança.
Temos um remidor familiar em Jesus Cristo, que, embora sendo Deus, veio ao mundo como homem para nos salvar. Através de sua morte na cruz, Ele nos resgatou do pecado e da morte e, assim, nos comprou (I Pedro 1:18-19). Esta bênção é a garantia de nossa herança eterna.
Os laços familiares fortes significavam que o verbo "resgatar" (ou "redimir") era de uso comum, ou seja, era do âmbito das leis sobre a família. Cada membro de uma família ou clã tinha a obrigação de defender e apoiar qualquer outro que estivesse em penúria ou fosse vítima de injustiça. O resgatador de uma propriedade deveria comprar de volta as terras que um parente tivesse vendido em tempos de necessidade (Levítico 25:25), mantendo-as, com isso, dentro da família.
Se alguém tivesse vendido a si mesmo para ser escravo, seu parente mais próximo deveria comprar sua liberdade (Levítico 25:47-55). O resgatador também tinha o dever de vingar um assassinato (Números 35:19; Deuteronômio 19:6).
O livro de Rute amplia esses deveres, incluindo dar um herdeiro a um parente homem que tivesse morrido sem filhos. Em geral, esse dever era responsabilidade de um irmão (Deuteronômio 25:5-10), mas, no caso de Rute, que não tinha nenhum cunhado, esperava-se que um parente mais distante se casasse com ela, conforme Noemi revelou (Rute 2:20).
Quando o Antigo Testamento afirmava que Jeová era o resgatador de Israel, os acontecimentos do êxodo adquiriam importância: "vos resgatarei com braço estendido" (Êxodo 6:6); "com a tua beneficência guiaste o povo que salvaste [e, resgataste]" (Êxodo 15:13). O Senhor nosso Deus se declarou o Resgatador divino de Israel, pronto a livrar e ajudar os israelitas (Isaías 41.14).
A contribuição particular do livro de Rute é nos ajudar a entender que só o parente próximo tinha o direito de resgatar e, mesmo assim, não tinha nenhuma obrigação de fazê-lo. A disposição que Boaz demonstrou, de sujeitar-se a um dever com um alto preço, prenunciou a disposição do Resgatador maior, que haveria de descender dele, pois ele viria ser bisavô de Davi e pertencente à genealogia de Jesus.