O nome Daniel significa: Deus é meu Juiz. Pouco se sabe a respeito do profeta Daniel, a não ser o que pode ser colhido do livro que tem o seu nome. Ele não foi sacerdote, como Jeremias e Ezequiel, mas era como Isaías, da tribo de Judá e, provavelmente, membro da família real (Dan 1:3-6). Foi levado para Babilônia quando ainda jovem (Dan 1:4), no terceiro ano de Jeoiaquim (605 a.C.), oito anos antes da ida de Ezequiel. Quando chegou à Babilônia foi colocado na corte de Nabucodonosor, e ali se tornou conhecedor da ciência dos caldeus, alcançando uma sabedoria superior à deles. O primeiro acontecimento que tornou conhecido Daniel, e que lhe deu grande influência, foi o ter revelado e explicado o sonho de Nabucodonosor. Esse fato ocorreu no segundo ano do exclusivo reinado daquele monarca, isto é, em 603 a.C. Depois disso foram os seus companheiros salvos de morrer na fornalha de fogo, em que tinham sido lançados por terem recusado a prestar culto a uma imagem, e alguns anos mais tarde sucedeu o segundo sonho de Nabucodonosor.
Os acontecimentos registrados no capítulo 5 do livro de Daniel, isto é, o banquete de Belsazar e as palavras escritas na parede, parece ter ocorrido no ano 538 a.C., pelo fim do reinado de Nabonido, representado em Babilônia pelo seu filho Belsazar. Naquela noite foi assassinado o jovem príncipe (que tinha a denominação de ‘rei’) e mudada a dinastia. Daniel tinha sido elevado por Nabucodonosor à alta posição e poder, ocupando lugar honroso, embora com interrupção, durante o governo da dinastia babilônica e da persa. No reinado de Dario foi aquele servo de Deus lançado numa cova de leões, pela sua fidelidade para com Senhor, mas viu-se miraculosamente salvo. Ele profetizou durante o cativeiro (Dan 1:21), sendo a sua última profecia revelada dois anos mais tarde, no terceiro ano do reinado de Ciro (Dan 10:1). Foi um modelo de fidelidade ao Senhor, mesmo numa terra estranha. Ezequiel menciona Daniel, Noé e Jó, como homens justos (Ez 14:14 e 20), e dotados de especial sabedoria (Ez 28:3). Jesus Cristo cita-o como profeta (Mr 24:15).
Algumas informações sobre o livro do profeta Daniel
O conteúdo: O livro acha-se dividido em duas partes:
I - Histórica (Capítulos 1 a 6),
II - Profética (Capítulos 7 a 12).
Naquilo que é Histórico vemos:
i) Daniel e seus companheiros na corte de Nabucodonosor;
ii) O sonho do rei com respeito à grande imagem, simbolizando quatro reinos;
iii) A fornalha de fogo;
iv) O sonho de Nabucodonosor em que foi vista uma grande árvore, sendo esta interpretada na sua destruição como figura da loucura do imperador;
v) O banquete de Belsazar;
vi) Daniel na cova dos leões.
Naquilo que é profético vemos:
i) Visão dos quatro grandes animais que subiam do mar, o seu juízo diante do ‘Ancião de dias’, e a entrega do reino a ‘um como o Filho do homem’;
ii) Visão do carneiro com dois chifres, o qual foi ferido pelo bode, que tinha um chifre insigne entre os olhos, quebrado este chifre, dele saíram quatro outros chifres, e de um destes um chifre mui pequeno, que se tornou grande e perseguiu os santos;
iii) A Daniel é dada a compreensão da profecia de Jeremias (Jer 25:12 e 29:10) quanto aos setenta anos das ‘idolatrias’ de Jerusalém;
iv) Daniel, depois do jejum e do luto, teve ainda outras visões (Capítulos 10 a 12).
O anjo Gabriel explica a visão do Capítulo 8, tornando-se a sua aplicação histórica um assunto simples. Assim, é importante a revelação do Espírito Santo para não haver dúvidas sobre o tão grande projeto de Deus para o homem. O império dos persas, estabelecido por Ciro, durou de 538 até ao ano 333 a.C., em que foi destruído por Alexandre Magno na batalha de Issus. Da idade de trinta e dois anos (em 333) morreu esse conquistador (o simbolizado chifre quebrado), que havia estabelecido domínio quase universal, e não tendo deixado herdeiro, foi o seu grande império repartido entre os seus generais. Depois de vinte anos de rivalidades e lutas, estabeleceram-se quatro reinos: Macedônia e Grécia, Trácia e Bitínia, Egito e Síria, sendo dada a parte oriental com a Babilônia a Seleuco. Por esta razão viveu a Judéia sob o governo dos reis selêucidas, desses, foi Antíoco Epifanes o nono (175 a 164 a. C.), que está na profecia figurada pelo ‘pequeno chifre’. As suas perseguições aos judeus resultaram numa revolta, chefiada por Judas Macabeu, e na reconsagração do templo (em 165 a.C.), cerca de três anos depois da sua profanação. Antíoco morreu alguns meses mais tarde. Pode, então, deduzir-se que, como a clara predição do "capítulo 8" se acha repetida e desenvolvida na parte restante do livro, antecipa-se ele nas profecias do mesmo gênero, porém mais obscuras, dos Capítulos 7 e 2, e que os reinos da Média, Pérsia e Grécia estão também compreendidos nos quatro simbolizados pelos animais e pela imagem. Além disso, o primeiro dos quatro é o reino do próprio Nabucodonosor, isto é, Babilônia (Daniel 2:38).
A Média e a Pérsia seria um só império, fundado por Ciro, e simbolizado pelo carneiro de chifres mais compridos e mais curtos? Se for assim, a Grécia é o terceiro, e o quarto naturalmente acha-se identificado com o império de Roma, tendo passado para os domínios romanos o império fundado por Alexandre Magno. Dessa interpretação derivam diversas interpretações a respeito dos dez reinos (os dedos dos pés da imagem, Capítulo 2, e os chifres do quarto animal, Capítulo 7), em que havia de dividir-se o império romano. A pequena ponta do Capítulo 7:8, 20, 21, 25 é, também muitas vezes, identificada com o papado. A interpretação do quarto reino está em estreita conexão com a controvérsia que diz respeito à data e autoria do livro. Se, em conformidade à invariável tradição dos judeus e da igreja cristã, o livro foi escrito por Daniel em Babilônia, então não somente é certa a historicidade dos Capítulos 1 a 6, mas também são maravilhosas as predições concernentes a Antíoco Epifanes, anunciadas quatro séculos antes do acontecimento.
Em favor de tal data há várias razões:
i) A de ter o livro o seu lugar no Cânon. Ele foi recebido como Escritura Santa no tempo dos Macabeus, e diz Flávio Josefo que as suas profecias foram apresentadas a Alexandre Magno na ocasião da sua chegada a Jerusalém. O livro está na versão dos Setenta do A.T., havendo começado essa tradução cerca do ano 280 a.C.
ii) O testemunho de Jesus Cristo (Mt 24:5).
iii) O testemunho da igreja cristã. Porfírio, um escritor pagão (233 a 302 d.C.) pela primeira vez atacou as qualidades proféticas de Daniel, e S. Jerônimo tratou das suas objeções.
iv) Os pormenores e colorido da narrativa nos impressionam de tal maneira que somos levados a julgar esse livro a obra de um contemporâneo. Todavia, o valor religioso do livro, a sua revelação do plano de Deus, a sua promessa da vinda de Cristo, e todas as lições morais e espirituais, que a igreja, em todos os tempos, tem recebido por meio das suas páginas, devem julgar-se independentes de qualquer conclusão sobre o tempo em que foi escrito e a respeito do seu autor.