Semana 45

Comentários Bíblicos: de 04 a 10 de novembro de 2024

Algumas informações sobre o Evangelho Segundo João

  • As informações sobre o escritor do livro, cujo foi João o Evangelista, está nas apresentações feitas pelo próprio autor ao leitor. Em três passagens (Jo 1:14-19,35 e Jo 21:24), o escritor, embora permanecendo anônimo, parece referir-se a si próprio, reclamando precisamente para os seus escritos a autoridade de uma testemunha ocular. Para a identificação do autor, uma direção é fornecida, na última das passagens referidas (Jo 21:24). Quem é ‘o discípulo que dá testemunho destas coisas’? A resposta é: Aquele ‘discípulo a quem Jesus amava, o qual na ceia se reclinara sobre o peito de Jesus’ (Jo 21:20, Jo 13:23,25, Jo 19:26, Jo 20:2 e Jo 21:7). Ora, aos acontecimentos referidos no cap. 21 estavam presentes Pedro, Tomé, Natanael, os filhos de Zebedeu, e ‘mais dois dos seus discípulos’ (vs. 2). Dentro deste círculo é natural procurar ‘o discípulo amado’ naquele trio, que nos sinóticos aparece na mais estreita relação com Jesus, e que consta de Pedro, Tiago e João. Pedro, contudo, é excluído pela própria narração, e Tiago foi martirizado muito antes de ter podido escrever-se este Evangelho. Fica, pois, o apóstolo João. A prova interna, oferecida pelo próprio Evangelho.

  • Pela narrativa se infere que o seu autor era:

i) Judeu.

  • Ele acha-se perfeitamente familiarizado com as opiniões judaicas (especialmente tratando-se da esperança messiânica, Jo 1:21 - 4:25 - 6:14,15 - 7:52 - 12:13,34 - e 19:15,21), e com os usos e práticas do povo de Israel. As explicações que o autor dá só poderiam ser fornecidas por um judeu, vivendo a certa distância da Palestina, depois da ruína da nação e do culto judaico, e quando se tinham tornado numerosas as conversões de pagãos ao Cristianismo. E assim ele se refere às festas, chamando-lhes ‘festas dos judeus’ (Jo 5:1 e 6:4), esclarece que o mar da Galileia é a mesma coisa que o ‘mar de Tiberíades’ (Jo 6:1), diz aos seus leitores que ‘Rabi’ quer dizer ‘Mestre’ (Jo 1:38), e que ‘Messias’ quer dizer ‘Cristo’ (Jo 1:41), e explica o procedimento dos samaritanos, recordando o fato de que ‘os judeus não se dão com os samaritanos’ (Jo 4:9).

ii) Natural da Palestina.

  • Mostra que lhe era familiar a topografia da Palestina e a de Jerusalém (cidade que já estava em ruínas quando o Evangelho foi escrito).

iii) Falava aramaico.

  • O estilo é semítico, e as citações do velho testamento mostram não só o conhecimento do hebreu, mas também da versão dos LXX.

iv) Testemunha ocular.

  • Tempo, pessoas e lugares são constantemente especificados, mostrando o caráter gráfico da narrativa ou ‘a habilidade de um artista consumado ou a memória de um observador’ (Westcott). Vejam as passagens do Evangelho, a que já nos referimos (Jo 1:14 - 19:35 - 21:24).

v) Um apóstolo.

  • Trata-se de uma testemunha ocular em estreita relação com os pensamentos e ações dos apóstolos e de Jesus Cristo. E agora passemos destas considerações, que têm a sua origem no próprio Evangelho, para o testemunho externo em favor da autoria de João. As palavras de João 1.1 são citadas por Teófilo de Antioquia (c. 180 d.C.), fazendo-as preceder de: ‘João diz’. Ireneu (que conheceu Policarpo, sendo este conhecido de João) atribui o livro, sem hesitação alguma, a ‘João discípulo do Senhor, e que também se recostara no Seu peito’, afirmando inclusive, que ele o escreveu em Éfeso, onde permaneceu até ao tempo de Trajano (97 a 117 d.C.). Um testemunho semelhante é dado por Tertuliano, por Clemente de Alexandria, e por outros escritores dos tempos subsequentes. Além disto, investigações recentes mostram que já Taciano (c. 170 d.C) fazia uso deste Evangelho, e que é quase certo ter sido conhecido de Justino Mártir (c. 150), e leem-se passagens da mesma obra em Valentino (c. 130), e em Basilides (c. 125), que são citadas por Hipólito. A data do livro apenas a podemos deduzir. As palavras de João 21.19 sugerem-nos que se está aludindo a fatos passados havia bastante tempo, embora este capítulo 21 possa ter sido um apêndice à narrativa original. Com dificuldade se pode crer que tenha sido escrito o Evangelho antes do ano 80, devendo, talvez, pertencer à última década do primeiro século. Não há suficiente base para pôr em dúvida a crença da primitiva igreja de que o Evangelho foi escrito em Éfeso.

Sumário do conteúdo:

i) (Jo 1:1 a 18): o prólogo, expondo a glória do Filho de Deus na Sua natureza divina e atos, bem como no fato e fim da Sua Encarnação.

ii) (Jo 1:19 a 12:50): Acontecimentos que ocorreram durante a Sua vida pública, manifestando o Filho de Deus a Sua glória a todo o povo.

  • Na primeira parte achamos: o testemunho de João Batista, a fé dos primeiros discípulos, a inquirição de Nicodemos, a fé dos samaritanos e a de um nobre da Galiléia (Jo 1:19 a 4:54);
  • nas narrativas subsequentes se tratam os milagres de Cristo, conversações, e o Seu modo de viver, no meio de uma oposição violenta sempre em aumento (Jo 5:1 a 12:36). Vêm finalmente as reflexões sobre as precedentes narrativas (Jo 12:37 a 50).

iii) (Jo 13:1 a 21:25): Acontecimentos preparatórios e em conexão com a Sua morte, manifestando Jesus a Sua Glória de um modo especial aos Seus discípulos. Temos nesta parte final:

  • os Seus discursos particulares, falando o Mestre aos Seus discípulos mais íntimos, e a Sua oração intercessora (Jo 13:1 a 17:26);
  • o Seu julgamento, paixão e morte (Jo 18:1 a 19:42);
  • a ressurreição e aparecimento aos Seus discípulos (Jo 20), acrescentando-se em apêndice uma nova descrição dos acontecimentos, junto ao mar de Tiberíades.

O plano de Deus para a Igreja no milagre das Bodas de Caná da Galileia

  • O Evangelho de João foi escrito à igreja e por ela ser iminentemente gentílica, esse evangelho é o mais explicativo dos quatro. Os discursos são mais longos e detalhados e fala-se mais do amor de Deus. Por isso, é também conhecido como o evangelho do amor. O primeiro milagre realizado por Jesus está descrito no capítulo 2 e foi a transformação da água em vinho. Existem muitos detalhes e vamos descrever alguns:

i) A festa seguia o ritual judaico, portanto, o vinho era o elemento que determinava a duração da festa. Enquanto houvesse vinho a festa continuava.

ii) Quem fornecia o vinho era o noivo.

iii) O vinho acabou no terceiro dia. O que ia acontecer? Consumar o casamento?

iv) Maria fala com Jesus sobre o vinho e Ele a repreende.

v) Jesus manda encher talhas de pedra com água e ela é transformada em vinho.

Significados proféticos:

i) A festa do casamento simbolizada profeticamente à festa da salvação. O Espírito Santo é o vinho. Enquanto Ele estiver presente, a festa continua. Quando Ele for embora é porque o casamento de Jesus com sua igreja foi consumado, pois ele sairá com a igreja.

ii) Quem enviou o Espírito Santo (vinho) foi o Senhor Jesus. "Todavia digo-vos a verdade, que vos convém que eu vá; porque, se eu não for, o Consolador não virá a vós; mas, quando eu for, vo-lo enviarei" (Jo 16:7)

iii) No terceiro dia, com a ressurreição de Jesus, ficou definitivamente consumado o seu ministério de morte e ressurreição e ali termina o vinho velho, que era a aliança do Velho Testamento com Israel e começava a nova aliança, ou o Novo Testamento com a igreja.

iv) Maria deveria ter falado com o noivo sobre o vinho ter acabado e não com Jesus, mas ela não foi repreendida por isso. Ao dirigir-se a Jesus, esse ato estava profetizando que Jesus era o noivo; e Ele é mesmo o noivo! Só que Ele só iria se revelar como noivo à igreja, que seria formada após sua ressurreição e ela seria gentílica. A aliança que o Senhor tinha com Israel era diferente da que Ele faria com a igreja. Maria era judia, por isso, a frase “que tenho eu contigo?” era como quem diz: Maria, não entre nesse assunto, porque eu sou o noivo, mas não vou me revelar dessa forma aos judeus e sim à igreja.

v) O vinho ficava guardado em cântaros, odres, ânforas. Eram nesses lugares que deveria estar quando acabou. Ao fornecer o novo vinho, O Senhor não realiza o milagre dentro desses recipientes, mas manda encher as talhas de pedra, que nem fazia parte daquela festa. O Senhor Jesus enviou seu Espírito Santo, que é o vinho novo, o elemento da comunhão, do novo pacto, mas Ele não foi gerado em Israel e sim na igreja. Israel como nação não recebeu o Espírito Santo, e sim a igreja. Esse milagre só está descrito no evangelho de João. Sendo o primeiro, não foi o mais marcante? Não deveria ser o mais divulgado? Isso ocorreu porque ele é destinado exclusivamente à igreja. É na igreja que o Senhor opera a transformação do homem. O homem é uma talha de pedra, duro e cheio de sujeiras que o mundo deposita lá. O Senhor mandou encher da água do seu Espírito e transformou em vinho, numa nova vida, melhor, doce e desconhecida (Jo 2:10b – “...tu guardaste até agora o bom vinho”).

  • Nicodemos queria uma bênção e o Senhor disse a ele que era preciso nascer de novo, ou seja, ser uma nova criatura, através da água e do Espírito, ou seja, da palavra revelada. Jesus assim estava explicando o milagre da água transformada em vinho para esse homem (Jo 3:5). Assim como Sete, filho de Adão, foi contado na sua geração porque veio em lugar de Abel que foi morto por seu irmão Caim e era a semelhança de seu pai (Gn 5:3), nós somos contados porque o Espírito Santo está em nós, e com o Espírito Santo em nós, somos feitos imagem e semelhança do Pai (Deus). Andando com Deus seremos tomados por ele no arrebatamento assim como Enoque (Gn 5:24). O que nos diferencia do mundo e de uma religião, instituição ou qualquer outra coisa típica dessa vida é o Espírito Santo em nós que está incumbido de nos levar a uma experiência com a Obra de Deus, a arca que Deus preparou para o escape de Nóe e sua família (Gn 6:18).